21 Jul 2025 | 5 minutos • Newsletter
Ciclo de feedback
Utilizando dados para o desenvolvimento pessoal
Ingrid Machado
Engenheira de computação, especialista em engenharia de software. Autora deste querido blog.
Este texto foi originalmente publicado na Trilha de Valor #102: Ciclo de feedback, que foi enviada no dia 16 de abril de 2025. Para receber a newsletter na sua caixa de entrada, inscreva-se aqui.
Lendo o livro “Humilhado: Como a era da internet mudou o julgamento público”, me deparei com o conceito do ciclo de feedback (feedback loop). No ciclo de feedback, são fornecidas informações sobre as nossas ações em tempo real, o que nos dá uma chance de mudar as nossas ações em direção a um comportamento melhor.
O exemplo utilizado no livro é muito interessante: em uma área escolar, os motoristas não estavam reduzindo a velocidade e o problema foi resolvido com um medidor de velocidade que apenas exibia a velocidade atual do carro na via. Com essa simples mudança, os motoristas passaram a diminuir a velocidade no trecho escolar. Mesmo sem nenhuma multa sendo emitida, apenas com uma tela exibindo a sua velocidade real em comparação com a da via.
O sucesso desse exemplo está diretamente ligado ao ciclo de feedback. Ao fornecer para o motorista uma informação a respeito do comportamento atual, ele tem a oportunidade de ajustar esse comportamento. Em boa parte das vezes, o ajuste escolhido é direcionado a seguir as regras, ou seja, a se comportar melhor.
O ciclo de feedback tem 4 estágios:
- Dados: um comportamento deve ser mensurado, capturado e armazenado
- Relevância: os dados devem ser contextualizados e fornecidos para o usuário de forma que dispare uma reação emocional
- Consequência: a informação deve deixar claras quais são as opções disponíveis
- Ação: deve existir um momento claro em que o indivíduo pode ajustar o seu comportamento, tomar uma decisão e agir
A ação final pode ser mensurada e o ciclo de feedback inicia novamente.
Usando o exemplo da velocidade novamente, podemos ter o seguinte ciclo:
- Dados: um medidor de velocidade capta os dados de um carro trafegando na via
- Relevância: a tela do medidor exibe para o motorista a sua velocidade atual em comparação com a velocidade permitida na via
- Consequência: o motorista pode escolher entre reduzir, aumentar ou manter a sua velocidade atual ao ser lembrado de que estar fora do limite de velocidade gera consequências, como multas e acidentes
- Ação: o motorista muda a sua velocidade
O artigo mencionado no livro e no qual me baseei para escrever boa parte desse texto fala sobre as barreiras para trazer o ciclo de feedback para o cotidiano:
- Dados personalizados são caros
- Coletar dados de forma barata é complicado
A questão é que esses dois obstáculos eram verdadeiros em 2011, ano em que o artigo foi escrito. Atualmente, é muito mais barato ter acesso aos nossos dados personalizados para conseguir tirar proveito do ciclo de feedback.
Com o meu smartwatch, eu consigo medir quantas calorias queimei num treino, contar os meus passos diários, monitorar o meu sono e até mesmo fazer avaliações antropométricas (medições como a quantidade de músculo esquelético, massa gorda e água corporal).
Eu também não dependo de um caderno para acompanhar as minhas métricas, porque o aplicativo que acompanha o relógio mantém o histórico e me permite acompanhar outras variáveis não acompanhadas pelo smartwatch manualmente. Um exemplo é o meu consumo de água. A cada copo finalizado, basta clicar num botão que o aplicativo contabiliza a quantidade e o horário.
Nunca tivemos tanto feedback sobre o nosso estado atual. Porém, ao mesmo tempo, imagino que muitas pessoas não prestem tanta atenção a esses dados. Talvez pela facilidade de coletar todos eles ou pelo volume de informações disponíveis. Mas o ciclo de feedback funciona justamente quando as informações são contextualizadas e fornecidas de forma mais direta.
O artigo também fala sobre encontrar a dose correta de feedback. Se o ciclo de feedback é muito passivo, não prestamos atenção porque os dados se perdem no meio dos estímulos diários. E se o ciclo de feedback é muito intrusivo, os dados se tornam um barulho a ser ignorado. O que precisamos fazer é encontrar um ponto de equilíbrio para que os dados fornecidos iniciem um ciclo de feedback que vai gerar mudanças reais.
Sabendo da existência do ciclo de feedback e do papel exercido pelos dados, podemos usar esse conceito para nos ajudar na conclusão dos nossos objetivos. Por exemplo, eu tenho como objetivo esse ano concluir alguns planos de estudo. Pensando no ciclo de feedback, eu uso um documento em que acompanho o andamento dos meus estudos. O que esse documento me mostra no acompanhamento são justamente informações que me fazem mudar de abordagem conforme o meu estado atual.
A aba está sempre aberta no meu navegador, o que me faz lembrar de consultar a tela de acompanhamento sempre que percebo o ícone da aba aparecendo. Não gosto muito de notificações, então ver o ícone consegue ser um lembrete forte o suficiente para me fazer consultar as informações, sem me sentir sobrecarregada.
Já tive muita dificuldade em concluir os meus estudos por achar que tinha tempo suficiente para concluir o planejado, quando a situação não era exatamente essa. Mas agora, ao receber de forma resumida a informação de que tenho 10 dias para concluir mais 10 capítulos de um livro, eu certamente vou focar na leitura do livro nos próximos dias se eu decidir que quero concluir a leitura no prazo.
Esse ciclo pode ser aplicado em diversas outras áreas. Com as informações do meu smartwatch e do aplicativo Samsung Health, eu posso tomar decisões baseadas na quantidade de exercícios que fiz na semana ou na quantidade de água que tomei no dia. As decisões podem ser ir para a academia amanhã de manhã ou tomar mais um copo d’água no meio da tarde porque o meu consumo está baixo.
Sugiro que você avalie os seus objetivos e como eles podem se beneficiar do ciclo de feedback. Pergunte-se se é possível mensurar algum fator envolvido no acompanhamento e na conclusão desse objetivo e se existe uma forma de criar esses ciclos focando em melhoria contínua.
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