03 Fev 2025 | 5 minutos • Newsletter
Resista: Não faça nada
Dando o devido valor para a nossa atenção
Ingrid Machado
Engenheira de computação, especialista em engenharia de software. Autora deste querido blog.
Este texto foi originalmente publicado na Trilha de Valor #64: Resista: Não faça nada, que foi enviada no dia 01 de novembro de 2023. Para receber a newsletter na sua caixa de entrada, inscreva-se aqui.
A segunda leitura do Clube do Livro para Introvertidos foi o livro “Resista: Não faça nada”, de Jenny Odell. Dentre os diversos conceitos compartilhados, escolhi como tema da edição de hoje os que mais me impactaram na leitura.
Eu tive uma quebra de expectativa, porque estava esperando um livro com instruções mais diretas sobre como não fazer nada. Mas fui apresentada a um livro mais filosófico e questionador. Alguns questionamentos me fizeram testar novos comportamentos imediatamente. Outros me deixaram pensativa sobre o que posso mudar no longo prazo.
Tentando organizar o que me deixou mais pensativa, deixo aqui três conceitos que me intrigaram e que acredito que vão me levar a fazer mudanças substanciais.
Habilidade aguçada de escuta
Apresentada como uma das vantagens do fazer nada, a habilidade de escutar de verdade parece ser algo não tão presente nas relações atuais. É preciso treino e um esforço constante para manter o foco e controlar a vontade de elaborar uma resposta enquanto escuta.
Enquanto lia sobre a escuta ativa, não pude deixar de pensar no quanto as pessoas estão mal acostumadas com uma comunicação rápida e sem muita atenção. E o exemplo mais marcante para mim é o uso do WhatsApp.
Este artigo (em inglês) fala sobre os malefícios do uso de mensagens de áudio de forma indiscriminada. A falta de feedbacks durante uma conversa no WhatsApp (algo que não acontece em uma conversa normal) faz as pessoas ultrapassarem os limites e não pensarem no conforto de quem está recebendo a mensagem. Além disso, a dinâmica da conversa é diferenciada. Já que em uma conversa presencial alguém dificilmente ficaria 7 minutos falando sem parar.
O artigo não fala sobre outra funcionalidade que atrapalha a escuta na vida real: a de acelerar o áudio. Já vi discussões sobre como o ritmo acelerado que podemos usar online nos desconecta do ritmo da vida real e atrapalha as relações que temos com outras pessoas. São tecnologias que parecem facilitar a nossa vida quando, na verdade, estão dificultando a nossa convivência na realidade.
Nos meus exercícios de mindfulness, comecei a testar a escuta ativa em reuniões. E cheguei à conclusão de que passo muito tempo desfocada em reuniões com mais 30 minutos. Idealmente, gostaria de manter reuniões mais curtas. Mas, como nem sempre é possível, estou exercitando o foco e a escuta em todas as reuniões.
Já passei por várias situações em que perdia o fio da meada ou algum acordo importante por estar divagando e sei que isso é prejudicial para mim e para o time. E treinando a escuta passei a perceber que apenas estar presente já resolve metade dos problemas que tenho no trabalho.
Sigo trabalhando nesses exercícios de atenção e estou consumindo bastante energia para manter o foco. Mas mal comecei a exercitar a minha escuta e já tive resultados interessantes. Apesar de estar focando muito no campo profissional, acredito que é algo para ser aplicado em qualquer área da vida.
Sobrecarga de informação, a um ritmo impossível de ser acompanhado
A autora também ressalta que a comunicação instantânea prejudica a visibilidade e a compreensão porque cria uma sobrecarga de informação, a um ritmo impossível de ser acompanhado. Estando cronicamente online, costumamos ter a sensação de que sempre existe algo para ler, conhecer, saber ou se informar.
Já falei sobre FOMO e sobre infoxicação. O primeiro se refere à ansiedade gerada por achar que algum evento pode estar acontecendo e você está perdendo. O segundo se refere à intoxicação causada pelo excesso de informação. Um fenômeno é relacionado com o outro diretamente, porque o FOMO pode nos levar a infoxicação. A partir do momento que seguimos online para não perder nada, podemos estar consumindo conteúdo demais, sem nem mesmo conseguir interpretar o que estamos acompanhando.
Tomar a decisão de se manter alheio a alguns acontecimentos e desacelerar, prestando mais atenção na vida real, pode ser estressante num primeiro momento. Mas não fomos feitos para absorver e processar o volume de informações que temos disponível na internet. Fazer a escolha de se afastar é uma escolha também pela nossa saúde.
Biorregionalismo
Um conceito que achei muito interessante e que pretendo prestar mais atenção depois da leitura é o biorregionalismo. Mais do que observar onde estamos, o biorregionalismo sugere também uma forma de se identificar com o lugar, construindo uma conexão com a região por meio da observação e responsabilidade com o ecossistema.
Com os questionamentos da autora, eu percebi que não sabia muito a respeito da vegetação da minha cidade, não sei identificar a fauna que passa por mim no dia a dia e também não sei as mudanças que ocorreram na paisagem. Como uma torcedora do Internacional, que tem um estádio construído sobre a beira do rio, sinto que eu deveria ter um pouco mais de conhecimento sobre as intervenções feitas na minha região.
Vejo essa falta de consciência como um resultado da vida acelerada que levo. Não posso afirmar por todas as pessoas, mas acredito que é meio geral. Acho que é alta a chance de encontrar mais pessoas que não sabem as transformações que a sua própria cidade passou nos últimos anos e como isso impactou na formação dos bairros ou até mesmo como atraiu ou afastou a fauna local.
Esses são os três conceitos que mais me chamaram a atenção no livro e que pretendo aprofundar. Me dedicar para escutar melhor as pessoas, controlar o volume de informações que eu consumo e ser mais consciente da minha biorregião são práticas que acredito que trarão benefícios no longo prazo. Resistir e não fazer nada não é ficar parado, mas sim prestar atenção no lugar onde se está e no uso do tempo que se tem disponível.
Caso tenha se interessado nesses tópicos, recomendo a leitura do livro. A autora aprofunda esses e outros assuntos relevantes e questiona sobre a forma que levamos a nossa vida atualmente.
Até a próxima!
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