13 Jan 2025 | 7 minutos • Newsletter
Fracasso e sucesso
Dois conceitos que fazem parte da vida de qualquer um
Ingrid Machado
Engenheira de computação, especialista em engenharia de software. Autora deste querido blog.
Estes textos foram originalmente publicados na Trilha de Valor #87: Fracasso e Trilha de Valor #88: Sucesso, que foram enviadas no dia 18 de setembro de 2024 e 02 de outubro de 2024, respectivamente. Para receber a newsletter na sua caixa de entrada, inscreva-se aqui.
Fracasso
Já falei sobre erros na newsletter e, fazendo uma autoavaliação, percebo que ainda sigo muito impactada negativamente por qualquer erro que cometo. É um exercício constante tentar entender o quanto a falha é grave a ponto de realmente gerar problemas e o quanto ela serve como aprendizado. Mas tenho me apoiado na visão da autocompaixão, que prega que devemos ser mais gentis com a gente mesmo. Também estou tentando pensar qual seria a minha postura em relação ao erro de outra pessoa antes de fazer o meu próprio julgamento.
Por estar sempre tentando evoluir nesse tema, me interessei num livro do clube de leitura “Pensadores da atualidade”, do BibliON: “As virtudes do fracasso”, de Charles Pépin. Não consegui acompanhar a leitura junto do clube, porque comecei a ler bem próximo da data do encontro, mas a experiência de apenas ler o livro já foi suficiente.
O autor apresenta o fracasso sob várias perspectivas: para aprender mais rápido, como único meio para compreender, como lição de humildade, etc. Todos os capítulos são muito convincentes para quem precisa de apoio para entender que o fracasso não é o fim do mundo. E quero destacar aqui o que ele fala sobre como aprender a ousar.
Para aprender a ousar, o autor sugere quatro vertentes:
- Aumentar a própria competência
- Admirar a audácia dos outros
- Não ser perfeccionista demais
- Lembrar-se de que o fracasso sem audácia é dos mais nocivos
Aumentar a própria competência
Abraçar o fracasso não é apenas tentar sem se preparar minimamente. Fazer isso seria apenas descuido. Antes de ousar, é preciso trabalhar as suas competências e adquirir experiência. Assim, no momento em que for necessário ousar, você vai conseguir acessar a sua caixa de ferramentas e decidir rapidamente o que fazer para lidar com a situação que se apresenta.
Ficar apenas aguardando oportunidades para ousar e não se preparar para o que pode vir é arriscado e receita certa para o erro que não leva a nenhum aprendizado. Os conhecimentos que você adquire em qualquer área podem ser empregados em outras que ninguém ainda pensou em testar. O seu conhecimento e a sua experiência vai ser o que vai te dar segurança para ousar. Ou seja, vai te permitir entender quando é possível ousar.
A audácia é um resultado, uma conquista: as pessoas não nascem audaciosas, elas se tornam.
Admirar a audácia dos outros
O autor apresenta exemplos de pessoas que se inspiraram na audácia de outras pessoas que vieram antes delas. Sem querer imitar, apenas observando como o que foi aplicado por outros pode mudar o que está sendo feito no momento para melhorar o resultado.
Fiquei muito intrigada com a parte que menciona que estamos vivendo uma época que dá muito destaque para pessoas sem talento. Se as pessoas que admiramos não são os melhores exemplos que podemos buscar, como vamos evoluir a partir do que observamos? É um ótimo questionamento para entender o que consumimos e como esse conteúdo impacta no que criamos.
O fato de uma época dar tanto destaque a tanta gente sem talento nem carisma é inédito na história, com consequências que ainda não podemos mensurar.
Não ser perfeccionista demais
Apesar de ser necessário se preparar, não podemos nos deixar paralisar pelo perfeccionismo. Conforme o que mencionei no primeiro item, temos que adquirir competências, mas também ter experiências para validar esse conhecimento.
No momento de ousar, esperar por todas as condições necessárias vai apenas fazer a oportunidade passar e a resposta padrão virar sempre aguardar. Eu sofro desse mal e trabalho para melhorar a cada vez que publico uma edição da newsletter. Porque se eu revisar o texto dez vezes, eu vou fazer dez ajustes. Mas o que interessa é compartilhar conhecimento e não mandar textos perfeitos.
“Quantas coisas temos de ignorar para agir.” - Paul Valéry
Lembrar-se de que o fracasso sem audácia é dos mais nocivos
Perder sem nem tentar é o pior resultado que alguém pode obter. Pensando a partir desse ponto de vista, tentar e não conseguir não parece um resultado tão ruim. É a partir do fracasso que vamos entender o que precisamos mudar e o que temos que aprender para acertar na próxima.
Domine a sua zona de conforto para que você consiga sair dela e ser audacioso. Não é preciso sair fazendo tudo diferente, basta dar o primeiro passo e ousar com certa segurança.
“Uma viagem de vinte léguas começa com o primeiro passo.” - Lao-Tsé
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Eu entendo que aceitar o fracasso e focar também na parte boa, no meu caso, vai ser um exercício constante. Mas também entendo que é necessário mudar essa minha visão para ter uma vida mais tranquila. Principalmente porque não ouso julgar ninguém da forma que me julgo.
Recomendo o livro para quem, assim como eu, precisa ver o fracasso de pontos de vista diferentes e como uma oportunidade de desenvolvimento pessoal.
Sucesso
Na edição anterior, falei sobre como o fracasso se relaciona com a ousadia. Nessa edição, gostaria de falar sobre o sucesso, um ponto de vista que também vale a pena ser explorado e que também é comentado pelo autor de “As virtudes do fracasso”.
Apenas relembrando, o fracasso por si só pode ser muito útil. A partir dele podemos aprender a fazer algo melhor, entender o que não compreendemos e direcionar o nosso caminho de aprendizado. Resumindo, se nos prepararmos o suficiente e analisarmos os fracassos de forma consciente, podemos usar os nossos erros como um grande direcionador do nosso desenvolvimento pessoal.
No fundo, é preciso conseguir fracassar. Mesmo que não seja para tirar lições do fracasso. […] Para descobrir que é mais gostoso viver assim. Dessa forma, o verdadeiro fracasso seria nunca ter fracassado, o que significaria que nunca ousamos.
A questão é que não vivemos apenas de fracassos. Assim como o fracasso, o sucesso também pode vir de forma inesperada e de uma maneira que não pensamos em aproveitar o momento para avaliar o que deu certo.
O autor nos provoca a pensar em como agimos frente ao sucesso. Pessoas com histórias de vida marcantes e que podem nos inspirar positivamente se questionam até mesmo nas vitórias. Procuram pistas de como fazer mais e melhor mesmo em meio a alegria que vivem quando conquistam algo. Será que elas teriam conquistado tanto se tivessem se acomodado com o primeiro acerto?
[…] para realizar-se ao longo do tempo é preciso também saber lidar com as próprias vitórias - que não é tão fácil. Ser capaz de vivê-las bem, de enxergá-las como oportunidades de aprender sobre si mesmo ou de se reinventar.
Um conceito apresentado no livro é a alegria do combatente, que representa uma alegria súbita. Ele é apresentado a partir de alguns pontos de vista:
- A alegria de dar a volta por cima
- A alegria de viver
- A alegria na adversidade
- A alegria do progrediens
- A alegria mística
Os filósofos da Antiguidade usavam o belo termo progrediens para descrever o homem que, sem ter chegado à perfeição, melhora a cada dia mais. Ser um progrediens, seguir em frente: eis o objetivo de uma existência.
Cada um desses pontos de vista apresenta como a alegria pode ser alcançada dentro de determinada crença ou linha filosófica. É difícil fazer um resumo aqui e recomendo a leitura do livro para quem quiser se aprofundar.
O ponto que acredito que vale destacar é a relação entre o sucesso e o fracasso. Conhecendo o que é fracassar, vamos ter condições melhores de aproveitar as nossas vitórias. Sabendo que é melhor ter sucesso, vamos seguir trabalhando para melhorar e evitar fracassos.
Mesmo sabendo que algum fracasso é inevitável, não faz sentido criar condições para que apenas fracassos aconteçam. Por isso, se manter atento a cada sucesso nos mantém em movimento e em busca de uma alegria que pode vir de diversas formas.
Gostei muito de ler esse livro e tenho me aproximado de leituras mais filosóficas. Nessa edição e na anterior, adicionei citações do livro para exemplificar melhor o que estava compartilhando e mostrar o tom da escrita.
É uma leitura não muito rápida, principalmente se você decidir refletir sobre tudo o que está lendo conforme avança. Mas é um ótimo exercício para quem precisa saber lidar melhor com os seus fracassos e entender como eles podem nos permitir aproveitar melhor os nossos sucessos.
Juntei duas edições em um único post porque entendo que aqui faria mais sentido trazer os dois assuntos em conjunto.
Espero que esses conceitos e reflexões te ajudem a encarar esse ano sabendo que fracassar e ter sucesso é normal.
Até a próxima!
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