07 Out 2024 | 11 minutos • Desenvolvimento pessoal
Como iniciar uma rotina de aprendizado contínuo
Dicas para uma organização básica
Ingrid Machado
Engenheira de computação, especialista em engenharia de software. Autora deste querido blog.
Dentro do time em que atuo, mantemos uma rotina de compartilhamento de conhecimento. A cada 15 dias, um integrante faz uma apresentação falando sobre algo que acredita que vale a pena compartilhar com o time. Pode ser sobre qualquer tema e organizo o calendário com antecedência para sempre termos apresentações.
Na minha última apresentação, falei sobre como iniciar uma rotina de aprendizado contínuo. Que nada mais é do que um apanhado de coisas que apliquei na minha própria experiência e que tem funcionado.
Nesse post, vou transcrever a apresentação de slides e compartilhar as dicas que passei para os meus liderados.
Definir objetivos
O primeiro passo para iniciar uma rotina de aprendizado contínuo é entender onde se quer chegar. E isso pode ser feito através de algumas técnicas para definir objetivos.
Comece pelo porquê
A primeira dica é inspirada no livro “Comece pelo porquê”. Como o autor ensina, ter um propósito guiando o que estamos fazendo aumenta e muito as chances de sucesso. Iniciar os estudos sem saber por que está fazendo isso pode ser o que define se você vai conseguir manter essa rotina ou não.
Quando estiver em dúvida se deve seguir estudando ou não, cansado de dedicar tanto tempo aos estudos ou apenas focando em qualquer outra coisa que não o tópico que deveria estar aprendendo, saber os motivos pelos quais iniciou pode ser uma grande fonte de motivação.
Por isso, recomendo que entenda por que vai iniciar essa rotina antes mesmo de escolher o que vai estudar. Entenda se você está estudando para atingir objetivos pessoais ou profissionais. Avalie o que você espera ganhar como recompensa ao conseguir aprender algo novo ou se existe apenas alguma realização pessoal envolvida.
Sempre que vacilar na sua rotina, lembrar os motivos que te fazem estudar pode ser o suficiente para voltar a honrar as suas promessas.
Objetivos SMART
Ciente dos motivos pelos quais pretende iniciar uma rotina de estudos, você pode pensar a respeito de quais objetivos pretende atingir com a sua nova rotina. Definir objetivos de estudo através de objetivos SMART é uma ótima forma de garantir que o planejamento é bom o suficiente para ser executado.
SMART é uma sigla para definir um objetivo:
- Specific (específico): ele é claro e explícito, sem deixar espaço para dúvidas no seu entendimento
- Measurable (mensurável): existe uma métrica que será acompanhada para medir o nível de sucesso do objetivo
- Attainable (atingível): é possível atingir esse objetivo com as ferramentas que você tem disponível no momento
- Realistic (realista): é um objetivo que pode ser concluído
- Time-bound (com prazo): o tempo limite para a conclusão do objetivo
Se você definir o seu objetivo de estudo seguindo as sugestões do modelo SMART, é muito provável que você vai conseguir atingi-lo. Pois ele estará claro para você, com métricas e tempo definido, o que facilita o acompanhamento durante a execução das tarefas.
Objetivo de abordagem
Outra dica que pode ajudar muito é definir um objetivo de abordagem, ou seja, um objetivo formulado de maneira positiva, podendo ser de 3 tipos:
- Conseguir fazer algo pela primeira vez
- Manter um estado desejado
- Desenvolver ainda mais um estado positivo
Quando for definir o seu objetivo, lembre-se de pensar nesse formato para se motivar mais no momento da execução. Definir que não quer fazer algo pode nos deixar em estado de vigilância e pensar no que queremos executar ajuda o nosso cérebro a seguir com as tarefas mais tranquilamente.
Motivação
Muito parecido com o porquê de fazer as coisas, está avaliar de onde vem a nossa motivação. No espectro de motivação, existem dois tipos opostos:
- Motivadores externos: quando as circunstâncias nos obrigam a fazer algo. Como atender as expectativas de outras pessoas, receber incentivos financeiros, medo de ser punido ou desejo de ser reconhecido
- Motivadores intrínsecos: quando você gosta de algo e quer fazer porque deseja sentir que é competente e realizado e expandir a sua compreensão dos problemas que ressoam em você em um nível mais profundo. Talvez você goste porque é divertido e alegre ou porque aguça a sua curiosidade
É mais fácil seguir com algo se o motivador é intrínseco. Porém, se o motivador é externo, nada impede que você consiga usar esse motivador para se manter ativo. O importante é entender melhor de onde vem essa vontade de estudar.
Definir temas e formatos
Escolher temas
Na minha visão, a escolha do tema a ser estudado está diretamente ligada à motivação. Se o que me guia é um motivador externo, geralmente é algo relacionado com o trabalho. Se é um motivador intrínseco, geralmente é algo relacionado com os meus projetos.
E essa relação também define o que vou estudar. Pensando em avançar na minha carreira, sigo estudando liderança e gestão de pessoas. Me mantenho atualizada na área de Engenharia e estudo as ferramentas usadas pelo time. Quando penso no que gostaria de estar fazendo, os meus projetos me levam a estudar sobre livros, escrita, foco e produtividade.
Por entender que a motivação está diretamente ligada com os meus temas, é muito claro para mim que consigo me manter estudando durante muito mais tempo o que está ligado aos meus projetos.
Forma preferida de aprender
Eu gosto muito de ler, mas, dependendo do tema, eu também gosto de ver vídeos curtos para entender o assunto. Talvez o seu formato favorito seja assistir a uma aula ao vivo e presencial, talvez seja ouvir um podcast.
Independentemente do formato, procurar o que mais te agrada como fonte de conhecimento também é uma forma de conseguir se manter na rotina de aprendizado. Mesmo que o assunto seja o seu favorito, o formato errado pode tornar o processo moroso.
Quando vou pensar sobre estudar, geralmente considero o seguinte sobre o formato:
- Vou consumir conteúdo em texto, áudio ou vídeo?
- Prefiro estudar sozinha, em dupla ou em grupo?
- Procuro um formato ao vivo e síncrono ou assíncrono?
Sabendo qual formato mais me agrada para determinado assunto, vou atrás das fontes que gostaria de estudar.
Os temas e formatos escolhidos podem ser registrados junto do seu objetivo, para deixar o planejamento bem claro.
Organizar a rotina
Com os temas e formatos definidos, é hora de partir para a organização da rotina em si.
Horas por semana
A pergunta que mais costumo ouvir envolve quantas horas por semana deveríamos dedicar para estudar. Na minha visão, a resposta certa é o tempo que você consegue focar de verdade.
Eu estudo bastante, mas alguns temas acabam sendo despriorizados, como francês, por exemplo. Para resolver isso, eu faço pelo menos uma rodada de Pomodoro, ou seja, 25 minutos de estudo, toda quarta-feira. Parece muito pouco, mas eu tenho dificuldade para avançar nas lições e me canso rapidamente. 25 minutos é melhor do que nada e nesse ritmo já avancei bastante no curso.
Essa dica funciona apenas para formatos assíncronos. Mas, se você assiste a uma aula e tem apenas o tempo de estudo após as aulas sob o seu controle, é esse tempo que você tem que avaliar. Apenas assistir às aulas não costuma ser suficiente e dedicar tempo para revisão e exercícios é necessário.
Se você gosta de misturar os formatos, é interessante dedicar um pouco de tempo para cada um deles por semana.
Uso do calendário
Eu costumo deixar reservado no calendário o meu momento de estudo. Por exemplo, toda segunda-feira às 17h eu tenho uma agenda de 1 hora para fazer os cursos do Coursera.
Hoje em dia, já é bem automático parar tudo nesse horário para estudar. Mas, enquanto você não tem a sua rotina definida e o hábito formado, é interessante acompanhar o calendário para essa organização.
Acompanhar os avanços
Se você seguir a minha sugestão de criar um objetivo SMART, você consegue acompanhar o quanto avançou no seu planejamento. Com isso, você consegue acompanhar se os dias planejados para estudar realmente foram dedicados para isso. Também consegue conferir se está perto do prazo definido e se ainda se mantém estudando o que definiu na escrita do objetivo.
Se esse acompanhamento mostrar que está atrasado, basta fazer uma reorganização. Eu sou bolsista do Coursera e tenho uma data limite para usar a minha conta. Por isso, eu estou sempre acompanhando o quanto estou próxima dessa data. No meu caso, acompanhar se o curso que estou fazendo pode ser concluído até o último dia da bolsa é importante para não afetar o meu planejamento.
No seu caso, pode ser que tenha a data de alguma prova ou até mesmo um prazo que você definiu como desafio pessoal. Use essas datas como motivadores para não perder o seu ritmo.
Aplicar técnicas de aprendizado
Existem várias técnicas que podem ser aplicadas para ajudar no aprendizado. Inclusive, falo mais sobre algumas delas aqui. Mas existem quatro que são as minhas preferidas:
Pomodoro
O Pomodoro é uma técnica bem simples usada para executar atividades que exigem foco. Um Pomodoro inclui um tempo de foco de 25 minutos e um tempo de descanso de 5 minutos. A cada 4 Pomodoros, o descanso é de 30 minutos.
Essa técnica funciona porque é bom para o cérebro trocar entre o modo focado e o modo difuso. E usar um timer para definir os tempos entre cada modo é a forma mais simples de fazer essa troca.
Mais detalhes sobre essa técnica podem ser lidos aqui.
Repetição espaçada
Quando estamos aprendendo algo, não é muito útil dedicar muito tempo no mesmo dia. O ideal é espaçar esse aprendizado.
Se você está estudando para uma prova na sexta-feira, é melhor estudar um pouco na segunda, um pouco na terça, um pouco na quarta e um pouco na quinta do que estudar todo o conteúdo na quinta-feira.
A repetição espaçada permite que o cérebro vá fixando o conteúdo aos poucos. Dessa forma, ele é realmente aprendido e absorvido. Tentar consumir tudo de uma vez vai fazer apenas você se sobrecarregar de informação sem absorção.
Mais detalhes sobre essa técnica podem ser lidos aqui.
Blocos de memória
Blocos de memória são conhecimentos que acessamos rapidamente. Por exemplo, ao dirigir, você não costuma pensar em tudo que está fazendo e muitas ações são feitas no automático. Isso acontece porque aprendemos o passo a passo da direção e depois vamos praticando e conectando todo esse conhecimento, o que reforça ele como um bloco facilmente acessível.
Se quiser formar um bloco de memória sobre qualquer assunto, se planeje para iniciar estudando os conceitos básicos e depois ir avançando para conceitos mais complexos conforme for entendendo o tópico. Também é importante praticar para reforçar o que aprendeu e conseguir entender a relação entre o que já foi estudado e o que está sendo aprendido no momento.
Mais detalhes sobre essa técnica podem ser lidos aqui.
Reservar tempo para estudar
Entendo que nenhuma dessas técnicas pode ser bem aplicada se não tivermos o mínimo de organização para dedicar um tempo para focar. Estudar exige atenção e ter um ambiente calmo, organizado e reservado para os estudos é a melhor opção.
Caso não consiga ter todas essas condições, entendo que ter, pelo menos, a força de vontade para mitigar as distrações que você tem controle já é um bom começo. Também gosto de me recompensar depois de uma seção de estudos, por menor que seja. Às vezes, jogo alguma coisa. Outras vezes, como algum doce. O importante é estar consciente de que está fazendo algo que você planejou e que está alinhado com o seu objetivo.
Mais dicas sobre como reduzir distrações podem ser lidas aqui.
Aplicar o que aprendeu
O processo de aprendizado prevê que vamos aplicar o que aprendemos, a fim de avaliar o que foi aprendido e partir para o próximo tópico cientes do que deu certo ou não. É um ciclo sem fim, que nos ajuda a ir refinando o que aprendemos e até mesmo a compreender de verdade a teoria.
Eu sofro com o meu foco mais frequente em estudar sem aplicar. Com isso, vejo que perco muitas oportunidades de aprendizado por estar represando o que consumi. Porém, quando consigo fazer as conexões necessárias para entender algum conteúdo a partir da prática, sempre percebo o quanto é importante testar e validar o que foi aprendido. Caso também tenha essa mesma dificuldade, tente validar o seu aprendizado em situações dentro da sua zona de controle. Conforme for ganhando segurança, você pode expandir a sua zona de aprendizado aos poucos e provavelmente vai conseguir avançar de forma mais natural.
Assim como gosto de compartilhar conhecimento e isso reforça o que estudo, praticar e aplicar cada melhoria me permite entender o que serve ou não para o meu contexto. E é a partir desse entendimento que é possível selecionar o que estudar em seguida, ou seja, entender se vou rever algo ou se posso avançar para conceitos mais avançados.
Manter uma rotina de aprendizado é ótimo para se sentir com a mente afiada e com um certo nível de controle sobre os seus planos e projetos. Sempre que interrompo a minha rotina, sinto que fico mais lenta, com o foco um pouco mais defasado e aquele sentimento de que algo está faltando.
Dependendo da sua profissão, estudar é um requisito contínuo e se organizar para se atualizar de forma tranquila é a melhor opção para que os estudos não tomem conta da sua vida.
Espero que compartilhar essas dicas tenha sido útil e que você consiga definir uma rotina que funcione.
Até a próxima!
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