02 Jun 2025 | 6 minutos • Artesanato
No que a costura me ajuda
O que o aprendizado e a quebra de expectativa têm feito por mim
Ingrid Machado
Engenheira de computação, especialista em engenharia de software. Autora deste querido blog.
Aprender um tema novo, totalmente fora da minha área de domínio, tem sido uma lição de humildade. Ao mesmo tempo, tem sido uma forma de aprender tantas coisas não relacionadas à costura, que decidi parar para refletir sobre os meus aprendizados.
Me surpreendi com os três principais itens, que vou compartilhar nesse post. Principalmente porque não imaginava algo do tipo quando decidi aprender a costurar. Talvez só a parte da paciência.
Sendo assim, segue no que a costura me ajuda.
A ter mais paciência
O processo de montar o meu ateliê provisório
Eu não tenho um espaço para costurar, que fica com tudo pronto, apenas me esperando para iniciar.
Quando vou costurar, preciso esvaziar a mesa da sala, colocar sobre ela a máquina de costura e a overlock e também todos os acessórios necessários para finalizar um projeto. Tem dias que somente essa parte já é cansativa o suficiente para me fazer desistir e deixar para costurar outro dia.
Nesse formato, eu me obrigo a pensar muito bem no que pretendo fazer e no que gostaria de concluir enquanto estiver com tudo disponível para costura. Não faz sentido montar tudo e depois pensar no que quero fazer e talvez desistir e precisar desmontar tudo de novo.
Mesmo que tivesse um local fixo, aprendi que preciso ter essa paciência em qualquer projeto. Não existe desfazer o corte de um tecido e nem todos os tecidos aceitam bem quando um ponto é desmanchado.
A espera pelo material necessário
Outra maneira que tenho para exercitar a minha paciência é a quantidade de insumos físicos da costura, principalmente de tecidos.
Eu tenho duas opções: sair de casa e ir numa loja de tecidos ou comprar online e esperar a entrega. O que significa que eu posso comprar um molde em pdf e baixar ele na hora, mas eu não consigo iniciar o projeto imediatamente se eu não tiver a paciência de comprar e esperar por todos os tecidos e aviamentos necessários.
Como sou muito acostumada a trabalhar com recursos digitais, essa tem sido uma forma de me desacelerar e entender que tudo tem um ritmo. Assim como não quero correr para não desperdiçar tecido, também não quero correr para não escolher o tecido errado. E esse é um item que pode definir o quanto vou gostar do resultado. Por isso, não é recomendável fazer essa etapa correndo.
Todo processo que envolve a costura
Mesmo com todos os insumos disponíveis e com o meu ambiente pronto para iniciar um projeto, a costura exige paciência em cada passo. Eu tento acelerar alguns passos com o uso do projetor e comprando moldes em pdf, mas o processo como um todo deve ser feito lentamente. Até para ter um resultado mais satisfatório.
No momento de aprendizado que estou agora, entendi que costurar em casa não tem que ser igual a quem costura profissionalmente. Cada peça vai ter o seu tempo para ficar pronta e todo esse esforço vai valer a pena se for feito com cuidado.
A primeira etapa da costura é desenhar o próprio molde ou escolher um molde pronto. Caso tenha desenhado o molde, é muito provável que as medidas já estejam corretas. Escolhendo um molde pronto, é preciso escolher um tamanho de acordo com as suas medidas.
Depois de ter o desenho do molde, vem a etapa de fazer um protótipo. Com o protótipo feito, são feitos os ajustes necessários e depois esses ajustes feitos no tecido são transferidos para o molde. Só depois dessa etapa é que começa o corte e costura do tecido da peça final.
Mesmo explicando de forma resumida, imagino que já dê para entender que uma única peça pode levar dias para ficar pronta. Principalmente para mim, que sou bem principiante. E eu nem incluí nessa descrição a etapa de escolher o tecido, pelo material e pelas cores e estampas, organizar o que precisa ser comprado e esperar ter tudo disponível.
Fazer um projeto de forma intencional, não se igualando ao que é vendido no fast fashion exige um pouco de mindfulness e dedicação. É isso ou gastar bastante tempo fazendo alguma peça e se arrepender com o resultado depois.
A continuar persistindo
A etapa do protótipo era a que eu queria evitar de qualquer jeito. Primeiro porque não quero ser costureira profissional, segundo porque é um gasto de tempo e tecido a mais. Mas essa teimosia durou somente até o momento em que terminei um projeto e não gostei de como ele ficou em mim. Mesmo tendo escolhido o tamanho mais próximo do meu, a bermuda que estava fazendo ficou muito grande na frente. Esse problema teria sido identificado e ajustado com um protótipo e eu acabei tendo essa visão apenas quando estava com a peça pronta.
Depois dessa frustração, eu considerei que tinha duas opções: desistir de costurar ou persistir na costura.
A primeira opção é a mais fácil. Seria relativamente tranquilo vender tudo o que comprei e fingir que nunca nem comecei. Mas eu entrei na costura porque nunca consigo encontrar uma calça decente para mim em nenhuma loja. Eu estou fora dos padrões e desistir me manteria com o mesmo problema.
Dando razão para o autor de “Comece pelo porquê”, ter esse motivo me fez escolher não desistir e finalmente dar o braço a torcer e ir aprender a como fazer ajustes em moldes e protótipos.
Estou gostando de aprender sobre o tema e esse acabou virando o meu foco principal nas últimas semanas. Encarar o desconhecido dá um pouco de medo e quando envolve muitas etapas dá bastante preguiça. Mas sigo pensando no meu motivo principal e estou bem disposta a seguir aprendendo para resolver a minha dor.
A me aceitar mais
Um ponto bem importante no fato de não conseguir encontrar calças que me sirvam é a aceitação. Quando eu não encontro uma peça de roupa que me serve, eu automaticamente penso que preciso emagrecer.
Na costura, a motivação é totalmente diferente. Quando você consome materiais falando sobre costurar para você mesmo e sobre ajustes, a mensagem é que você deve costurar uma roupa para o corpo que você tem agora.
Eu recebi um material muito interessante depois que comprei um molde do Sew Liberated, em que eles falam sobre como ter um relacionamento mais saudável com as suas calças. Parece um tema aleatório, mas eu consegui me ver naquelas dicas.
O meu corpo muda de acordo com a época do mês. Isso significa que existem dias em que estou mais inchada, dias em que estou menos inchada e até dias em que estou mais sensível na região do abdômen. Isso também significa que eu preciso ter calças de tamanhos diferentes no cós para que eu consiga me vestir de forma confortável o mês inteiro. E isso faz muito sentido. Ao invés de tentar me encaixar numa calça, a calça tem que encaixar em mim.
Eu nunca levei em consideração as mudanças pelas quais o meu corpo passa conforme a vida vai acontecendo. O meu foco sempre foi em conseguir usar o que todo mundo usa, mesmo sendo uma pessoa que se considerava não muito antenada na moda.
Esse é um ponto de virada que mudou totalmente o meu relacionamento com as minhas roupas e que me fez escolher moldes de forma totalmente diferente também. Agora eu escolho o que eu acho que me representa e que vai me fazer sentir bem vestida e confortável.
Quando escolhi aprender a costurar, imaginava que seria uma atividade relaxante e que me ajudaria a ter mais foco. A parte do foco eu acertei, mas cada dia é um novo aprendizado que me faz estudar mais para entender os motivos e ter mais paciência.
Espero que compartilhar esses aprendizados contigo te inspire a buscar uma atividade do tipo.
Até a próxima!
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